quarta-feira, 25 de junho de 2014

escrever

quando eu era mais nova escrevia todos os dias. era difícil imaginar um dia sem tempo para escrever. eu vinha da escola, às vezes fazia os trabalhos de casa (mas na maior parte das vezes não), lanchava, via televisão, conversava com a minha avó, cuidava do meu irmão, chateava-o, estendia a roupa, mandava mensagens a pessoas a quem chamava de amigas, muitas mensagens. no meio de tantas coisas, eu tinha sempre tempo para escrever.
nunca soube escrever diários. já tentei. sei lá, talvez umas três vezes a sério. porque não me quero esquecer daquilo que já vivi, do que já passei, das conversas que tive, dos amigos que tive, das paixões que tive. e eu esqueço-me das coisas muito depressa. pensando bem nem me lembro do que comi ao almoço, como posso esperar de me lembrar o que falei com pessoas com quem já nem me dou ?
a verdade é que a maior parte das coisas que já escrevi estão perdidas. em cadernos da escola, em folhas soltas espalhadas pelas gavetas de minha casa, de casa da minha avó, de casa da minha outra avó, no meu computador, no disco externo, ou num compêndio de textos que resolvi fazer depois do meu antigo computador ter morrido afogado e eu ter quase perdido três anos de letras.
 de vez em quando encontro um texto e leio-o. Às vezes ainda me lembro do que está realmente escondido naquelas metáforas. outras vezes nem faço a menor das ideias, mas o que está escrito naquela folha de papel é meu e sinto-o como meu. às vezes leio o que escrevi noutro tempo e penso "o que é que me passou pela cabeça para escrever isto?".
quando eu era mais nova, quando ainda não sabia o que queria ser quando fosse grande, quando eu ainda não era grande, não tinha que tomar decisões sobre um futuro que não sei se existirá como eu quero, quando ainda não tinha o meu amor comigo, e andava perdida num mundo onde me chamavam "gorda", "feia", "pêra", "puta", a tentar fazer amigos novos - nesse tempo eu escrevia todos os dias. escrever era a minha forma de desabafar, de pensar, de orar. escrever era a minha forma de vida.
nesse tempo eu queria ser jornalista.
hoje eu sou crescida e tomo decisões. os meus pais já só servem para me pagar as contas, porque eu sou maior de idade e decido quem manda no meu país. hoje eu tenho amigos que adoro e que me fazem sentir bem - e alguns desses amigos foram os que me mostraram o caminho para a felicidade. hoje o bruno existe na minha vida. e eu já raramente escrevo. porque não tenho tempo, porque ando sempre cansada, porque não sinto necessidade, por razão nenhuma. eu não sei bem, mas sei que raramente escrevo.
hoje eu quero ser advogada, porque me irrita o jornalismo praticado no nosso país.
mas isso também não interessa nada, porque hoje, aqui, estou a escrever a sério como já não fazia há muito tempo. por uns minutos, sou de novo mais nova, mais inocente e ligeiramente mais infeliz, mas tão contente! hoje eu sou eu.

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