sexta-feira, 11 de novembro de 2011

a casa dos beijos

  


 iam os dois pela rua, de mãos dadas. dir-se-ia que não pisavam o chão. dir-se-ia que deslizavam, que vogavam, que voavam. a felicidade estava-lhes cunhada nos rostos; e também nos gestos, nos sorrisos, no olhar. Iam de mãos dadas pela rua e iam muito felizes.
   [...]
   nem sequer reparavam que muitas pessoas os observavam. algumas pessoas com a conivência de um sorriso. outras pessoas com um ressaibo de inveja, no olhar de esguelha. pararam um pouco em frente à pastelaria suiça, no rossio, ele disse qualquer coisa a ela, ela encolheu os ombros. não deixavam de sorrir enquanto conversavam. depois entraram e beberam café.
   o rapaz e a rapariga decidiram, depois de tomar café, passear pelo rossio. estavam muito felizes. e é bom que se repita isto, porque as pessoas, habitualmente, andam para aí cheias de infelicidade, ao menos que haja alguém feliz, mesmo que seja uma ou duas pessoas.

   passeavam pelo rossio e, de vez em quando, davam beijos, sempre sorrindo um para o outro, como se estivessem a sorrir para todo o mundo, e todo o mundo experimentava uma grande sensação de espanto e de júbilo. paravam junto as montras do rossio, olhavam, claro, mas não fixavam nada do que nas montras se expunha, só sabiam um do outro, só estavam ali juntos para apenas estar um com outro, juntos e assim mesmo: de mãos dadas e aos beijos.
   foi numa dessas ocasiões. beijavam-se tão felizes, tão um do outro, que essa felicidade molestou uma senhora obesa e flácida. a senhora obesa e flácida estacou, indignada, a fuzilá-los com as balas do ódio. e gritou:
   - não podiam fazer isso em casa?
   a rapariga dos longos cabelos e seios puxados para a frente deixou o beijo a meio. o rapaz experimentou uma estranha sensação de pasmo. olharam-se. E foi então que a rapariga respondeu, indicando tudo em derredor:
   -  esta é a nossa casa!
   nesse instante témulo, o mundo feliz, começou a aplaudir.
- baptista-bastos

(hoje fiz um teste de português e este foi o texto
que o meu professor escolheu.
realizei um sonho - falar de amor durante
um teste inteiro. e ainda poder filosofar um pouco
fora da disciplina própria)

4 comentários:

A tua opinião conta, e eu conto com ela,

Ninna (: